domingo, 13 de janeiro de 2013

Autenticidade e transparência na rede



No Livro The Presentation of Self in Everyday Life Ervin Goffman defende que o individuo se cobre com mascaras e que para cada situação escolhe uma. O individuo e a sua individualidade está sempre por trás da máscara, ou melhor, por detrás de um aglomerado de mascaras que se vão revelando como se fossem as camadas de uma cebola…



Este aglomerado de camadas resulta de um confronto com a sociedade e é, em última análise, um resultado do choque entre a necessidade de proteção do individuo e a sua inevitável exposição social.

O individuo, continuando com a metáfora, desenvolve a sua convivência social no grande palco que é o mundo e Goffman recorda a celebre frase de Shakespeare: “All the world is a stage. Tudo no palco social é uma performance onde todos temos uma imagem a manter.

Como enfrentar este novo contexto ‘de grande palco’ que se desenvolve no registo online?

Onde fica a nossa identidade? A tecnologia deu-nos novas formas de nos expressarmos e revelarmos através, por exemplo, das redes sociais. O crescente número de empregadores que recorrem às redes sociais para o recrutamento de pessoal é, aliás, um exemplo claro de que este palco é tão significativo em termos de indicadores sobre os traços de um individuo como qualquer outro dito tradicional.

Mas o contexto em que se desenvolvem estes contactos extravasa em muito o mero acesso a informação biográfica e toca no acesso a áreas, até aqui, reservadas apenas a uns. Se não visto o mesmo em casa do que no trabalho, porque mostraria ao meu patrão o mesmo que mostro à minha família? Como filtrar (ou não) aquilo que quero que os outros (ou alguns outros) conheçam de mim?

Neste sentido, as mascaras poderiam resultar como uma proteção, ou filtro, ao serviço da preservação da minha individualidade/intimidade.

No entanto, é ao encoberto destas mascaras que anonimamente muitos exercem a sua ideia de liberdade de expressão.  Tantas vezes esta liberdade é anonimamente exercida em manifestações mais ou menos públicas. No registo online potencia-se o perigo de a voz não ter dono e a esse encoberto são perpetrados todo o tipo de crimes, ou cibercrimes, contra a integridade moral e intelectual dos indivíduos.

Ao assumir-se a nossa identidade (ainda que seja apenas uma máscara de nós), que seja correlacionável com o nosso ser físico com um número de cidadão e fiscal, sujeitamo-nos a que a aquilo que fazemos online seja punível (ou louvado) no mundo real.
Em última análise, a chamada a que assumamos a nossa verdadeira identidade em qualquer contexto é uma chamada inata à sociedades de direito, sujeita a regras e a leis.

Cada vez mais se questiona a quem cabe o ‘policiamento’ do ciberespaço e nenhum estado de direito ignora a necessidade de legislar nesse sentido. Mas o que assistimos é a um ditar das leis por entidades para as quais não votámos. Grandes empresas, com grandes interesses online, regem-se por critérios que impõem como regras, sobre a divulgação de dados pessoais. Essas regras, que teoricamente só seriam impostas aos utilizadores dos seus serviços, são apresentadas como política… infelizmente essa política faz lembrar o velho oeste americano, um local onde vale a lei da bala. Há muito a fazer em termos de proteção dos direitos online!

Num mundo de fadas a princesa espera pelo seu príncipe na torre mais alta do castelo, que a virá salvar com o beijo do verdadeiro amor! E se esse príncipe vier com uma mascara? Será que não se quebra o feitiço?


Vivemos online à procura de quase tudo e alguns e algumas também à procura do príncipe encantado. São milhares os casos de homens e mulheres, que se deixam vigarizar por alguém por detrás de uma máscara. Assumir a nossa identidade online, a nossa versão incorpórea é consubstanciarmo-nos para além dos números (de identidade, fiscais, bancários), que eram apenas extensões de uma parte de nós e assumirmo-nos como seres pensantes sujeitos às mesmas (ou novas) regras de convivência social.

Muitos continuarão a ‘mostrar’ online apenas uma mascara de si próprios, tão verdadeira quanto a mascara que fisicamente mostram de si no palco social do quotidiano. Outros acreditarão que são tão ‘reais’ online como o são na vida real e, finalmente, haverá os que receiam o espaço online por se sentirem como que num ‘Big Brother’.

Os dados apresentados na seguinte infografia, sobre dois ‘pesos pesados’ do espaço online, revelam distintos pontos de vista sobre  as noções de autenticidade e anonimato online. Os números falam por si e dispensam grandes comentários. 
Não deixa de ser curioso o último número apresentado: 70% dos utilizadores do Facebook diz-se preocupado com questões de privacidade online.



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